segunda-feira, 12 de junho de 2017

O fim de um ciclo:

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Nessa viagem louca que viemos fazer pela terra, uma das coisas mais incríveis são os novos caminhos, que aparecem cada vez que escolhemos seguir em frente. A Bella Xu, que nos acompanhou em muitos passos dessa jornada, chega ao fim, dando espaço a novos rumos e novas histórias.

Não dá pra resumir o que estamos sentindo em uma só palavra: quando olhamos para trás e vemos a história que criamos e tudo o que vivemos até aqui junto com vocês, nossos corações transbordam.

Nos últimos 6 anos, nós sonhamos muito e, mais importante ainda, vivemos o nosso sonho. As conquistas, as felicidades, os lugares onde chegamos… Ah, isso foi ainda muito maior do que nossa imaginação permitiu.

Um sentimento de gratidão nos enche dos pés a cabeça! Gratidão por você, que nos acompanhou, nos apoiou, cantou, dançou e torceu pela gente. Junto com vocês alcançamos o maior sucesso possível: ser feliz fazendo o que amamos. E nós fomos muito felizes com tudo isso.

Só temos a agradecer. Pelos momentos maravilhosos e pelos difíceis também. Aprendemos muito, crescemos muito e amadurecemos muito. De cabeça erguida, nós olhamos para o passado e seguimos com muita alegria e gratidão em direção ao futuro. Uma jornada se encerra, mas o sonho só aumenta.

Você, que chegou até aqui conosco, gostaríamos de te abraçar nesse momento e agradecer por tudo. Se não fosse por você, não teríamos chegado tão longe e conquistado tantas coisas nesse anos. Continuamos nosso caminho nos sentindo mais fortes e confiantes de que um futuro muito bonito se desenha a nossa frente.

domingo, 11 de junho de 2017

O CANTO DO CANÁRIO – HISTÓRIA SOBRE UM FIM




Piou e morreu. Eu não conhecia bem aquele canário, quando eu cheguei ele já estava aqui. Era de estimação de um antigo morador, me confidenciou uma das moradoras da vila, ele sumiu um dia e o canário ficou. O bichinho ficou e foi adotado por toda a vizinhança. Faziam rodízios para alimentá-lo, trocar a água e limpar suas sujeiras. Cantava bonito, e com ele a turma se acostumou.
Recebia a todos os novos moradores e visitantes com uma melodia única – não era alegre nem triste, não era excelente nem fraca, era única. Podia dizer-se que o bichinho era carismático. Conquistava atenção de crianças e velhos, mulheres de vestidinhos soltos e homens de cara amarrada. Cada um tinha um nome para ele, ninguém se lembrava exatamente de como o antigo morador o batizara (na verdade, ninguém nem soube dizer quem era o antigo morador, ou há quanto tempo ele tinha ido embora).
Um dia, uma criança deixou (talvez não tão sem querer assim) a gaiola aberta, e o canário fez o que se espera de todo canário: foi. A vila ficou num misto de alegria e tristeza, que eu confesso que me atingiu mais do que esperava. Tinha parado para prestar atenção uma ou outra vez nele, mas a sensação geral me atingiu como um soco na boca do estômago.
As crianças tristes, os adultos com coração pesado mas tentando mostrar que o canário estava voando por aí, espalhando sua melodia. É egoísmo querer guardar coisas bonitas só pra gente, me confidenciou uma garotinha que não devia ter mais que um metro e trinta (acho mais seguro medir crianças pelo tamanho do que pela idade, nunca consigo acertar a idade de crianças).
Não demorou muito e alguém do bairro vizinho postou uma story no instagram falando sobre um canário de canto único – ouve como esse canário canta, nem parece canário. Foi um frenesi: o jonas ganhou da noite pro dia, quinze seguidores que dividiam a mesma caixa dos correios. Não demorou muito e apareceu um tweet sobre um canto. Um texto num tumblr, uma poesia no Medium.
Por aqui e por ali, os moradores recolhiam lembranças virtuais do canário que contagiava as pessoas por onde passou. Um dia cheguei em casa mais cedo, algo estava me incomodando no escritório e eu não conseguia trabalhar. Aproveitei que saí no meio do expediente nessa plena quinta feira e pedalei até a padaria de duas quadras pra cima de casa. Cheguei com a bike em uma mão e um saco de Carolinas na outra e um rebuliço formado no pátio.
A gaiola aberta, e o pássaro lá. Fazia o quê? Dois meses? Dois meses e meio? E lá estava ele. Na outra manhã ele cantou – e cantou como nunca tinha cantado. Não sei se eram as experiências no mundo lá fora, se foi fruto de sua consciência ou se ele já sentia o amanhã, mas ele cantou com uma leveza que, nem mesmo nele, eu tinha visto.
Recebi uma ligação, sexta à tarde. O canário parou de cantar. Segurei o fôlego, mas não consegui segurar as lembranças. Olhava as folhas na minha mesa, as telas pedindo atenção, mas nos meus ouvidos ecoavam os seus cantos. O seu último canto foi o mais bonito. A sua última música ainda ecoa dentro de mim, nessa sexta feira. Nesse hoje.
Obrigado, canário. Que você esteja livre como esteve na sua última canção, esteja onde estiver. E a sua vila? Lembramos dos nossos bons momentos.
        

(a foto original da capa é do Li Baroni, e você pode vê-la aqui)

Fonte: Santo Irgo